segunda-feira, 13 de junho de 2005

A Biologia de O Senhor dos Anéis

O mundo de “O Senhor dos Anéis” é conhecido por milhões de pessoas, principalmente depois que os três filmes de Peter Jackson saíram nos cinemas e ganharam o Oscar. A Terra Média é um lugar onde abitam seres estranhos e que trata, como o próprio Tolkien já disse, de um passado alternativo para a origem do planeta Terra e da humanidade.


Partindo do princípio de que este seria apenas uma outra possibilidade de passado para o mundo onde vivemos, é interessante observarmos como as coisas estranhas que acontecem nos escritos de Tolkien podem ser explicado (ou não) pela ciência moderna, particularmente a Biologia.


O Caso dos Meio-Elfos


Um caso interessante é o fenômeno dos Meio-Elfos. Elrond, personagem de grande expressão em O Senhor dos Anéis, é um Meio-Elfo. Ele possui em suas veias sangue das duas espécies, os Elfos e os Humanos. É fato que isso aconteceu devido ao casamento de um Homem com uma Elfa. No caso específico de Elrond isso acontece pelos dois ramos de sua família. Seu pai, Eärendil, é filho de Tuor, um humano, e Idril, filha do Rei Élfico Turgon, enquanto sua mãe Elwing é filha de Dior, um outro Meio-Elfo, e Nimloth, uma elfa.

Na mitologia de Tolkien, Eärendil navegou até Arda, a Terra Imortal e pediu misericórdia pela raça humana e pela raça élfica dos Noldor. Os Valar aceitaram seu pedido e derrotaram o primeiro Lorde Negro, Morgoth. Mas eles nunca tinham esperado que as duas espécies pudessem ser misturadas e definiram que Eärendil e toda a sua prole poderiam escolher entre uma vida de Humanos e uma vida de Elfos. Eärendil escolheu viver como elfo a pedido de sua esposa, assim como seu filho mais velho Elrond. O irmão mais novo de Elrond, Elros escolheu uma vida mortal como homem e se transformou no primeiro rei de Númenor e o ser humano de vida mais longa que já existiu. Ele reinou sobre Númenor por 600 anos.

Mas voltando a análise biológica deste fenômeno, temos aqui um caso de hibridização entre duas espécies distintas e que ao se reproduzirem produzem um descendente fértil. É claro, você pode dizer que então Homens e Elfos são a mesma espécie, pois eles se reproduzem e seus descendentes são férteis, eis a definição de espécie. Mas então como se explicaria a imortalidade de Elfos e a Mortalidade de Humanos? Isso é indicativo que são duas espécies distintas. Mas então como eles conseguem se reproduzir?

Podemos especular de que se trata de duas espécies muito próximas, possivelmente irmãs evolutivamente e que são do mesmo gênero, se não se tratarem de subespécies. Essa seria uma ótima explicação para o fato de ser possível a reprodução entre eles. Obrigatoriamente Elfos e Humanos precisam ter o mesmo número de cromossomos e eles serem correspondentes. Isso permite que a reprodução entre essas espécies não produza nenhuma aberração cromossômica permitindo que o embrião se desenvolva normalmente.

Um outro ponto que devemos lembrar é a descrição de Tolkien para os Elfos. Eles são muito parecidos com os Humanos, as diferenças mais marcantes são as orelhas pontudas e o corpo mais alto e esguio. Elfos e Humanos são praticamente iguais. Isso fortalece a hipótese de se tratarem de subespécies. Subespécies podem se reproduzir entre si e produzirem descendentes férteis.

Certo. Sendo Homens e Elfos subespécies, membros de uma única espécie, como os humanos morrem em 70, 80 anos, no máximo pouco mais de 100 e Elfos não morrem nunca? Neste caso nós devemos pensar em quais são as causas da morte de um indivíduo. Elfos são Imortais, mas apenas para casos de morte natural, de velhice. Milhares de elfos morreram ao longo da história na Terra Média. Elfos são mortos por ferimentos e por doenças. A diferença com relação aos humanos neste aspecto é que os espíritos de Elfos podem ressuscitar depois de um período nos jardins de Mandos, enquanto os espíritos de humanos vão para fora do mundo.

A imortalidade élfica não é totalmente correta. Luthien Tinúviel foi a única Elfa que morreu por causas naturais, mas ela escolheu a morte e desistiu de viver, seu espírito abandonou o corpo e não mais voltou, sendo que o corpo não vive sem o espírito ele morreu. Mas ainda não propomos uma teoria para explicar como os Elfos vivem para sempre.

Uma boa idéia é imaginar que os elfos na verdade não morrem porque eles simplesmente não envelhecem. Depois de certo tempo, quando ficam adultos, seus corpos deixam de envelhecer e permanecem em um período de vigor físico eterno. Seu corpo deve, portanto, ser capaz de corrigir todos os problemas que certamente irão ocorrer ao longo de milhares de anos de vida. Erros na replicação do DNA são muito comuns, o sistema de reparo que existe em nossas células deveria simplesmente ser perfeito nos Elfos. Isso acontecendo uma célula nunca precisaria sofrer a morte programada, pois nunca teria erros no DNA e, portanto, nunca produziria proteínas com erros, que levariam a morte celular. Ou então podemos pensar que as células que vão acumulando muitos problemas acabam por ser substituídas por novas em um processo de substituição contínuo e que nunca termina. Os neurônios velhos sendo substituídos por novos sem que isso interfira na capacidade mental do indivíduo. As células cardíacas se renovando. Ao invés de morrer os Elfos trocariam de corpo literalmente, pois as suas células estariam em intenso processo de substituição celular.

A segunda hipótese possui uma falha que pode ter passado despercebido por um leitor que não seja conhecedor desta área da biologia. Se um organismo está em intensa replicação celular, ele está muito, mas muito mesmo, sujeito a sofrer algum erro durante esse processo de duplicação do material genético e produzir sutis mutações que levariam a um quadro de problemas sistêmicos que levaria a morte por causas naturais. Os Elfos envelheceriam, talvez mais rápido que os humanos, talvez mais lentamente. Certamente suas capacidades mentais poderiam se manter por um período maior, mas nunca por milhares de anos.

O que seria uma proposta interessante é juntar as duas hipóteses e formular uma nova hipótese de tal jeito intermediária as duas anteriores. Os Elfos teriam então, um sistema de reparo de DNA perfeito associado a uma capacidade de renovar todas as células do organismo, em taxas mais altas que a inutilização dessas células. Desse modo os Elfos poderiam viver por um período de tempo indeterminado sob o efeito de todos os tipos de intempéries para as células onde a capacidade de reparo do DNA fosse maior do que os danos causados ao mesmo e aos erros de replicação. Do mesmo modo podemos explicar como os Elfos morrem. Eles são mortos por ferimentos que superam a capacidade de reposição das células e de cicatrização do organismo do mesmo modo ocorrendo com doenças que superem suas capacidades curativas, pois afinal a tudo há um limite.

Os Meio-Elfos teriam então essa capacidade de sustentação do vigor físico e mental por um tempo maior do que os Homens comuns. Aqueles Homens que possuem antepassados entre o povo élfico possuem também tempo de vida mais longo e conseguem manter o vigor e a sanidade até o fim de suas vidas. Neste caso teríamos uma caracterização de uma condição intermediária como seria de se supor no caso de um cruzamento de quaisquer dois seres: o descendente possui características de ambos os progenitores.

Esta linha de pensamento é extremamente complexa e não é intenção esgotar todo o assunto. Mesmo que seja possível ficar escrevendo indefinidamente (como talvez os elfos possam) o espaço para estes escritos é, de todo modo, limitado. Limito-me a deixar o assunto aberto a discussão. Sintam-se livres para esculhambar com a teoria proposta. Quem sabe possamos chegar a algum acordo juntos?

3 comentários:

albrecht disse...

Ae guri, muito massa o texto.

Uma resalva, Luthien não foi a única elfa que morreu desta forma, a mãe de Fëanor também morreu por causas naturais. Ela ficara tão cançada depois do nascimento dele que não tinha mais forças.

Outra coisa, se nos elfos não ocorrem erros no DNA por causa da replicação ou as células ou o próprio DNA consegue se recuperar, desta forma não haverá alteração genética no indivíduo e logo não haverá mutações e evolução.

Mas é só isso... legal mesmo o texto.

Falo!

Anônimo disse...

João cê viajou legal. Bem vou me juntar a vc, lá vai:
Primeiro não precisamos nos preocupar com evolução dos elfos ou qualquer outro ser vivo de Arda afinal eles foram criados prontos por Iluvatar e os Valar na grande canção. A evolução não existe nesse mundo.
Segundo: sistema de reparo de alta eficiência não deve ser a única explicação para a imortalidade élfica. Talvez os elfos não produzam radicais livres como os humanos mortais e tenham sua telomerase ativadas nas células somáticas do organismo evitando assim o encurtamento dos telomeros e a apoptose celular que se segue.
Mais duas observações: elfos não ficam doentes! Seu sistema imune é perfeito, a única doença que pode matá-los é morrer doente de trizteza (depressão élfica); até hoje em nenhum texto de Tolkien eu li a descrição de que elfos possuem orelhas pontudas.

albrecht disse...

O negócio de orelhas pontudas é coisa de RPG, AD&D principalmente.